"– Não percebo o motivo para todo este drama, inspetor, todo este sofrimento, todas estas mortes. Tentamos ser feli­zes e acabamos, inconscientemente, fomentando o rancor, o ódio... A vida condecora-nos com estranhos prémios. E o que vai acontecer com este homem?" 

Com este pequeno parágrafo, extraído de um dos capítulos mais dramáticos do romance Lágrimas e Cânticos de uma Caminha­da, o autor, Cipra Maurício, promove uma reflexão profunda acerca de como atos simples e quase sempre incontornáveis da nossa condição humana podem levar-nos a conviver com o desencanto, a desgraça e com arrependimentos inconsoláveis. Situado no último terço do século XX, tendo como principais cenários as ilhas de Santo Antão e São Vicente, o romance nar­ra, de forma apaixonante, andanças, sonhos, vivências, dramas, nostalgias, lutas, realizações e derrotas de Junzim, e de todos aqueles que o rodeiam.

Escrita com largas pinceladas poéticas e temperada com uma boa dose de humor, a obra lança um olhar atento e eclético so­bre uma sociedade cabo-verdiana em constante transformação, abordando, de forma séria e aberta, às vezes crua, temas que sempre flagelaram a alma humana, como a homossexualidade, a pedofilia, o incesto, a cobiça, o ódio, a inveja, a amizade e o amor.