As asas de um Anjo encantador e alegre eram o seu miradouro. Deambulando sob as estrelas do céu, via ao longe uma bola gigante pintada de manchas prateadas, azuis e verdes. Mais de perto: via crian­ças alegres que brincavam felizes em relvados verdejantes, via jovens apaixonados que trocavam promessas de amor e riam alegremente, via adultos que em árdua labuta e transpirando, cantavam as maravilhas de Deus e via Idosos que vergados pelo peso dos anos e amparados por bengalas douradas, sorriam embebecidos de ternura e felicidade. O Anjo sorria. Mas a bola rodou. As manchas prateadas desapareceram, as azuis ficaram escuras, as verdes ficaram pretas, o ar ficou negro de fumo, as crianças alegres e felizes viraram esqueletos informes de olhos esbugalhados e ventres dilatados, as jovens vestidas de luto, gritavam de tristeza e dor ao ver os corpos dos seus homens esquartejados, mutilados e mortos, e os idosos, acamados, sem apoio nem conformo, pediam a Deus que os levasse o quanto antes. O Anjo agora chorava. O mundo virara um local de sofrimento, onde só o sacrifício de alguns podia trazer algum alívio e conforto.

O CHORO DO ANJO é o título de um romance histórico que, no seu enredo ficcionado, enquadra as catástrofes, as calamidades, as guerras, a fome e a miséria que ocorreram no mundo ao longo do século XX e princípio do século XXI.