É com as lembranças de coragem que enchiam aquela casa que há uma certeza e é essa certeza que se impõe: a vida é mais forte do que tudo, mesmo depois de todo o sangue que por ali correu, o perdão ainda é um caminho viável.

A mudança é difícil. Demora muito, por vezes mais do que uma vida.

Iniciamos a viagem, mas muitas vezes não a acabamos.

Por vezes acreditamos que podemos fazer a travessia sozinhos. 

Ela nunca conseguiu revelar os seus segredos mais íntimos sem sentir vergonha. Que momento poderia ela ter alterado? Em que ponto temporal poderia ter avançado numa direção e não noutra?

Os acontecimentos foram-se desdobrando sem ela conseguir abandonar o homem mau que tornara as palavras entre eles cada vez mais difíceis. Violência e perseguição eram a única fala que o homem mau utilizava para se fazer entender. Naquela casa era o mar aberto, à deriva, sem que alguém pudesse imaginar o que ali se passava.

É entre o passado e o presente que se buscam os pormenores de todos os acontecimentos, sem serem capazes muitas vezes de suster o círculo vicioso. Tudo parece distante, mas as feridas, na verdade, ainda não cicatrizaram, apenas foram disfarçadas.

O medo é uma coisa estranha, mas tem que ser enfrentado, e tal como uma boa mãe nunca larga os seus filhos dos olhos, para onde quer que vá, fixa o céu, pois sabe que reconhece em cada imagem a sua história, como se finalmente regressasse de novo a casa e encontrasse terra firme.