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“Assassinas os dias com lucidez,
Já os teus pais desenham castelos no ar.
Para quê essa enorme placidez
Se o teu sofrimento começa a despontar?
Deita-te debaixo das mantas
Se o teu receio são as caras estéreis de passageiros,
Se o teu medo são as ruidosas gargantas,
Se o teu terror são os olhares verdadeiros.”
Sara Mafra escreve com a mão febril do assombro perante a vida. Não, não a vida quotidiana de quem sobrevive vivendo-a como um bem precioso e inestimável, alegre e sorridente. Mas de quem conhece o terror do olhar verdadeiro, de quem a sofre na sua violência imanente, de quem se afecta no prazer e no horror. Com a coragem e o medo de ser uma mulher perante a vida, perante a morte.
Uma autópsia poética sobre o humano real, ela, aquém ou muito para além da possibilidade de uma qualquer redenção.