Você não conseguiu o emprego que queria. Os sonhos que, adolescentes, corriam a 120 por hora foram barrados pela blitz da realidade. Sua vida amorosa, que você espelhava nas séries românticas, está mais para filme de terror. Os nomes que você guardava para seus filhos imaginários de repente não fazem mais sentido. A ampulheta dos 30 anos está nos últimos grãos de areia. Como em um fim de jogo, você parece ler a derrota no placar. O que você faz? Se joga na cama agarrado ao controle remoto e às barras de chocolate até o baixo-astral passar? Não. Você vai para a Itália. Em As asas perdidas, Viviane Camerano nos convida, em uma narrativa autêntica e sensível, a um passeio pelos recantos deslumbrantes da Itália, ao mesmo tempo em que descobre, através das veredas sinuosas da reflexão autocrítica, o caminho de volta a si mesma. Com uma prosa leve e bem-humorada, a autora nos leva das pontes e mercados de Veneza às colinas toscanas, da torre do Palazzo Vecchio às fontes da Piazza Navona, dos parques e grutas da Villa Gregoriana ao Coliseu – parando e se sentando sob a sombra de uma árvore, de quando em quando, acompanhada de sua câmera e de um refrescante gelato, para ouvir as broncas e conselhos de sua voz interior. Sempre procurando aprender com as inúmeras pessoas – nativos ou viajantes, como ela – que encontra pelo caminho, e partilhando com generosidade seus próprios enganos e decepções, a autora faz, em As asas perdidas, não só “uma singela declaração de amor à Itália”, mas também à vida. 

Natália Nami