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Quando sentires saudades
busca por mim
no Cemitério dos Poetas
onde jazem
os mais loucos dos profetas
Na entrada
está uma placa
que diz
"não lhes resta mais nada"
nem corpo, nem carne
nem génio, nem alma
O coração já não bate
está parado
magoado
e a cabeça já não erra
as palavras fraternais
foram com eles para à terra
À noite reúnem-se
deambulam pela cidade
e choram juntos
as lágrimas são poeira
os passos são vento
o toque um devaneio
Os poetas (mortos)
apaixonam-se
todos os dias pela tristeza
no olhar alheio
mas não se tocam
nem tal seria possível
Eles pensam
melancolicamente
no que nunca fizeram
no que nunca deram
mas deram e fizeram
e ninguém valorizou
Ainda de noite
vão às casas
daqueles que os esqueceram
e plantam a semente
do sofrimento
como uma maldição
Depois visitam
os que ainda os amam
e que por eles chamam
que vagueiam em desalento
e consolam-nos com uma rima
que os acalma até ao esquecimento
De madrugada
não lhes resta nada
voltam para casa
a citar versos em sintonia
quase em alegria
que jamais terão.